sábado, 9 de março de 2024

A defunta do baile

 

                Belarmino morava no pacato vilarejo perto da cidade Afoga Bode que fica no sertão alagoano.

                O vilarejo havia parado no tempo. O progresso não chegara naquele lugar. As casinhas danificadas pelo implacável tempo eram adornadas com portinholas coloridas. Elas compunham o traçado das ruas de terra batida. Lá no alto do morro ficava a capelinha de São José, o padroeiro do vilarejo.

                O vilarejo não oferecia opções de trabalho. Os moradores trabalhavam nas roças carpindo o mato e à noite iam se divertir no único buteco do vilarejo. Zé fumaça servia a todos as iguarias da casa: cachaça de alambique e choriço para tira gosto.

                Certo dia ao chegar no buteco do Zé Fumaça, Belarmino percebeu um rebuliço diferente. Os homens falavam e gesticulavam com energia. Todos muito alvoroçados.

                Sentou-se num canto como de costume. O Zé trouxe a sua cachaça preferida e perguntou:

                -Você vai ao baile, Belarmino?

                -Que baile?

                -O baile que a Nena está organizando naquela casa atrás do cemitério.

                -Cruz credo! Aquela casa é assombrada. Dizem que os mortos saem do cemitério e ficam andando pela casa como almas penadas.

                -Deixe de bobagem homem! Tem assombração não. Se aprume que o baile é na sexta feira.

                -Baile na sexta feira 13 numa casa assombrada. Vou não.

                -Se você não for vai ser chamado de medroso e todo mundo no vilarejo vai rir de você.

                Belarmino foi para casa pensando no que o zé disse. Se ele não fosse os amigos iam ficar zombando dele. Quer saber de uma coisa, eu vou! Com a casa cheia de gente as almas não vão ter coragem de assombrar.

                No dia seguinte levantou bem cedo, deu um trato no fusca e foi para a roça. Depois de lavorar passou no buteco do Zé para tomar um traguinho e aquecer o esqueleto pois o frio estava congelando os seus ossos.

                Sexta feira! Belarmino saiu da roça e foi direto para casa se aprontar para o baile. O velho terno cheirava a naftalina e a gravata surrada estava puída.

                Tomou um banho de bacia, vestiu-se. Se olhou no espelho e gostou do que viu. Só faltava ajeitar o cabelo. Pegou um vidro de brilhantina em cima da cômoda e untou os cabelos até que eles ficassem brilhantes. Sorriu com gosto! Nem um fio fora do lugar.

                Belarmino pegou a chave do fusca e saiu satisfeito. Se tivesse sorte até uma namorada ia arrumar.

                Adentrou no salão. A iluminação era parca e quase não se via nada. As chamas dos lampiões formavam imagens cadavéricas nas paredes. Lá fora o pio de uma coruja completava aquele cenário de morte.

                Belarmino sentiu um arrepio de pavor quando uma mão gelada tocou em seu braço. Olhou de soslaio! Uma linda moça sorria convidando-o para dançar.

                Apavorado esboçou um pálido sorriso e levou-a para a pista de dança.

                Dançavam alegres e despreocupados quando ouviram as badaladas do relógio da igrejinha. Era meia noite!

                Outra vez Belarmino sentiu o seu corpo estremecer. Cora, a moça que com ele dançava, disse que era chegada a hora de ir para casa.

                Belarmino ofereceu uma carona que Cora aceitou com satisfação. Rodou pelas vielas estreitas e parou em frente à casa de número 15.

                Tomou Cora em seus braços e a beijou com paixão. Belarmino sentiu seus lábios enrijecerem. Cora tinha os lábios mais frios do que uma defunta.

                Dias se passaram e nada de encontrar Cora. Belarmino se lembrou da casa onde ela morava. Vestiu novamente o seu terno surrado e foi ao encontro da amada. Nervoso bateu na porta chamando por Cora. Uma senhora muito magra e desnutrida veio em sua direção. Belarmino perguntou por Cora e a pobre senhora começou a chorar e disse que Cora havia partido há dois anos.

                -Isso não é verdade, senhora! Eu dancei com ela no baile da semana passada.

                -Se não acredita vá no cemitério. No túmulo perto da capelinha repousa os ossos da minha amada filha.

                Alucinado dirigiu até o cemitério. Com as faces esquálidas de pavor Belarmino viu o vestido de cora e o relógio que ele lhe dera em cima do túmulo.  Petrificado com a cena ouviu uma voz que dizia:

                -Você veio meu amor! Agora ficaremos juntinhos para sempre!

                Lágrimas escorriam da face de Belarmino que não resistiu ao susto. O seu corpo inerte tombou em cima daquele túmulo.

                Naquelas paragens nunca mais se ouviu falar de Belarmino.

                O povo comentava que Belarmino foi apenas mais uma alma arrebatada pela defunta do baile.

(Gracita Fraga)


30 comentários:

  1. BAH, essa defunta era ´poderooooooosa!
    Adorei do início ao fim e as escolhas dos nomes da cidade e de todos! Pobre Belarmino!
    Muito legal! Causos são divertidos!
    beijos, lindo fds! chica

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  2. Boa tarde de sábado, querida amiga Gracita!
    Nossa! Só mesmo uma escritora de primeira consegue escrever tão bem, com riquezas de detalhes tão pertinentes ao contexto incluindo um bom toque de humor na descrição do homem se arrumando...
    Adorei desde o inicio, ao meio e a conclusão.
    De arrepiar.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  3. Que conto sensacional!
    Adorei a riqueza de detalhes e me arrepiei com o final
    Um show de arte literária
    Abracinho

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  4. Fiquei super empolgada do princípio ao fim
    Uma história de arrepiar, muito interessante
    Beijos

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  5. Que conto lindooooo
    Fiquei maravilhada com o final desta história de arrepiar
    Beijitos

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  6. Sensacional a riqueza deste conto
    Os detalhes muito bem explicitados com magia e poesia
    Uma gostosura de ler
    Um abraço

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  7. Eu amei este belo conto apesar de ter ficado arrepiada com o desenrolar da história
    Beijos

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  8. O desenrolar da trama me arrepiou os cabelos
    Interessante e envolvente o seu conto cara amiga Gracita
    Um abraço

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  9. Oi Gracita
    Te confesso que fiquei apavorada com o poder desta defunta, viu?
    Muito interessante esta história de terror com humor
    Adoreiiiiii
    Beijos

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  10. A história foi muito bem ambientada para nos deixar em clima de terror
    E como era poderosa essa defunta
    Um conto sensacional
    Beijos

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  11. Um conjunto perfeito desde o nome da cidadezinha aos personagens criando um cenário de arrepiar
    Uma história mega interessante
    Gostei muitoooooo
    Beijos

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  12. Olá amiga Gracita
    Encantado com a genialidade desta bela história
    Deu pra ficar arrepiado viu?
    Um abraço

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  13. Um belo causo com o toque mineiro de contar causos de assombração.
    Ótima a construção que deixa curioso o leitor para ver o final.
    Descrição bem feita que dá para reconstruir os personagens e locais na mente.
    Aplausos querida vizinha.
    Bjs e bom domingo de feliz semana.

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  14. Um belo causo que me deixou de cabelo em pé tal foi a minha curiosidade para ler o final
    Uma construção excepcional Gracita
    Beijos

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  15. Um conto de assombração com riqueza de detalhes para nos arrepiar
    Adorei ter a curiosidade despertada e louco para conhecer o final da história
    Perfeito Gracita
    Adorei ler
    Um abraço

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  16. Que história que nos interessa do princípio ao fim... Gostei muito.
    Uma boa semana. Um beijo.

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  17. Um típico causo de assombração que trouxe arrepios só de imaginar o Belarmino dançando com a defunta
    E quão poderosa era essa defunta heim amiga
    Amei o seu conto de terror
    Um abraço

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  18. Se estivesses no canto a apreciar, irias ver a tua amiga a sorrir encantada com a tua história!
    Porque amei a vivacidade do teu diálogo no decorrer de toa a narrativa, pontuada com uma dose imensa de ironia, não fosse um tema que nos traz sempre aquela dose de mistério que fascina.
    Depois, porque termina de uma forma inesperadamente arrepiante e mutitooo interessante.
    Muitos parabéns, COMADRE, AMEI!
    Um beijooo!

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  19. Olá Gracita
    E eu aqui extasiado esperando pelo final que nem de longe poderia imaginar ser esse
    Tão incrível eu me vi no cenário só pra ver a reação do Belarmino no baile
    Mas ... precisava matar o coitado rsrsrs
    Um conto excepcional minha amiga
    Um abraço

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  20. Poderosa essa defunta, heim?
    Fiquei arrepiada com essa bela história
    Beijos

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  21. Oi Gracita
    Uma história encantadora construída com requinte para arrepiar
    Eu ameiiiii
    Beijos

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  22. Uauuuuu
    Arrepiada com o poder desta defunta
    Uma bela história, amiga
    Beijos

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  23. Eita... que eu me arrepiei inteiro com esta história aterrorizante
    Vou pensar muito antes de pro baile próximo de um cemitério
    Encantado amiga Gracita
    Um abraço

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  24. A sua história me empolgou Gracita
    Eu sou apaixonada por histórias de terror
    E a sua ficou extraordinária
    Beijos

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  25. Olá Gracita
    Uma história pra aterrorizar heim amiga?
    Eu adorei este conto
    Um abraço

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  26. Uma bela história ambientada com riqueza de detalhes
    Uma leitura arrepiante
    Beijos

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  27. Histórias de terror me fascinam
    E esta me conquistou pela trama muito bem escrita
    Gostei imenso e fiquei arrepiado com essa defunta
    Um abraço

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  28. Coitado do Belarmino pensando que ia arrumar uma namorada é arrebatado para a morte pela defunta do baile
    Um conto interessante!
    Beijos

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